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A paixão pelo leste, do Anália Franco ao Jardim Pantanal

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Mensagem  Sandro Qui Jan 17, 2008 12:59 pm

A paixão pelo leste, do Anália Franco ao Jardim Pantanal

O administrador de empresas e ator vive num prédio de luxo no Jardim Anália Franco. A professora, numa casa modesta do Jardim Planalto, aquele sempre alagado. Amam seus bairros, são felizes ali.

Por Fernando Vieira

Há pouco mais de 17 anos Juliana de Souza Gonçalves se mudou para a região onde Aílton Zampirolli Catharino vive desde que nasceu, a Zona Leste. Não se conhecem, mas acalentam um sentimento comum: a paixão por esta região da Capital. Dizem com a mesma convicção que sequer pensam na possibilidade de se mudar para outra região de São Paulo.
Mas as semelhanças entre os dois paulistanos ficam nisso. No mais, predominam as diferenças, realidades bem opostas dentro da mesma Zona Leste paulistana.

Aílton, de 42 anos, é solteiro e formado em administração de empresas, com cursos de extensão em economia e análise de sistemas. Trabalha desde a adolescência na empresa da família, com sede há mais de 40 anos na Zona Leste, ocupando hoje o cargo de gerente administrativo. Ao mesmo tempo exerce a profissão de ator, no grupo Arquivo Temporário. Em cena usa o nome artístico de Ito Cathz.
Fotos: Patrícia Cruz/LUZ
O administrador e ator Aílton Catharino
mora no Jardim Anália Franco. No Jardim Planalto vive a professora Juliana Gonçalves. Dois mundos distintos, o mesmo amor pela Zona Leste

O negócio de fabricação de materiais para obras e escritórios, iniciado por seu pai, prosperou ao longo dos anos. E a situação familiar também foi melhorando consideravelmente seguindo o ritmo empresarial. Na infância, ele morava no bairro Aricanduva em uma casa simples. Depois, no bairro da Penha, numa residência bem mais confortável. E, desde 1996, reside com os pais e duas irmãs num apartamento de alto luxo no Tatuapé, na região do Jardim Anália Franco, uma das mais valorizadas nos últimos anos na Capital.

Ainda que a ascensão financeira tenha sido significativa, não representou motivo para que Aílton e sua família buscassem outra área nobre para viver em São Paulo, como Moema, na Zona Sul, ou Morumbi e Jardins, na Zona Oeste.

Ao contrário, o prédio escolhido para nova residência à época da terceira mudança encontrava-se próximo de onde sempre moraram e trabalharam. Um edifício imponente, com apartamentos de cerca de 350 metros quadrados: quatro quartos, biblioteca, salas de jantar, estar e TV, dois quartos de empregada e seis vagas na garagem, estilo característico de um apartamento por andar.

No entanto, fator decisivo para a saída da antig a casa e escolha do apartamento não foi o conforto, mas os sete assaltos sofridos, cinco deles praticamente seguidos - e quatro sob ameaça de armas de fogo. A família buscou então no condomínio a segurança que já não sentia em uma casa, como vigilância 24 horas, porteiro, monitoramento eletrônico, etc.

É comum ver ainda em outros edifícios desse padrão na região até mais rigor, inclusive revistas dos veículos antes da entrada para a garagem. Os moradores se submetem ao constrangimento da inspeção na porta de seus lares em troca da sensação de segurança. “Temos muito medo da violência. Mas não acho que seja um problema diferente do resto da cidade, o mesmo que se vê na Zona Sul”, diz, em defesa de sua região.

Para ele, não faltam argumentos positivos para viver na Zona Leste. Fala com entusiasmo das vantagens sobre alguns dos considerados bairros bons como as linhas de metrô, as vias de acesso - “por exemplo, a Radial Leste, apesar do trânsito carregado em alguns momentos, é uma reta por onde praticamente se vai até onde quiser em São Paulo” -, os shoppings centers Metrô Tatuapé, Anália Franco, Silvio Romero Plaza e Chic - “quatro apenas aqui no bairro” - e os supermercados: “E geralmente quem mora aqui e possui uma renda mais alta é porque tem sua empresa ou comércio na região ou trabalha em uma das empresas locais. É a comodidade de estar perto de casa”.

O administrador-ator brinca com o fato de haver um preconceito contra a região, predominantemente de média-baixa renda, que rendeu o apelido de “ZL” à área e aos seus moradores: “Por que sair daqui e ir morar na Zona Sul? Lá vou ser apenas mais um. Enquanto aqui me diferencio como um morador da ZL. Digo em tom de brincadeira, mas isso ocorre de verdade, é uma vaidade natural dos moradores daqui, que se conhecem há anos e reconhecem as histórias de luta e sucesso”.

Um dado chama a atenção na Zona Leste: são 359 favelas - maior número entre as demais regiões da Capital - frente a exuberância da região expandida do Jardim Anália Franco.

Contudo, o relacionamento de vizinhança é o grande destaque entre as demais qualidades, na opinião de Aílton: “Somos muito próximos. Todos acabam se conhecendo, independentemente do nível social e da disparidade de renda. Acho que este é um fator que acaba nos aproximando porque não há o isolamento, a convivência se torna mais constante. Por essa relação de vizinhança costumo dizer que o Interior de São Paulo começa aqui, na Zona Leste”.

Talvez o aspecto de cidade de interior pudesse ser mais uma semelhança em relação ao ambiente onde vive Juliana, de 28 anos, no bairro Unidos de Vila Nova, na região do Jardim Pantanal, em São Miguel. No entanto, a característica interiorana, nesse caso, assume outro significado, especialmente de carência de infra-estrutura. Muitas ruas ainda não foram pavimentadas, tratores circulam em meio a obras iniciadas recentemente pela Prefeitura para tentar melhorar a condição local. É comum ver charretes puxadas a cavalo, para espanto de quem imagina São Paulo apenas como a metrópole.

Juliana mora ali desde os 11 anos, sempre na mesma região. Concluiu há pouco tempo o magistério. É casada e mãe de dois filhos. O primeiro Maydson, de 10 anos, veio “de surpresa”, uma gravidez aos 17 anos. O segundo, João Paulo, de 3 anos, é fruto do casamento de cinco anos.

A casa em que vive foi construída aos poucos, um cômodo depois outro. Hoje “está boa para a família” e mais uma irmã que mora junto: tem dois quartos, uma cozinha e um banheiro. Deve ganhar mais espaço porque a mãe que morava nos fundos, em dois outros cômodos, se mudou: “Em breve iremos juntá-los. Aí vou ter uma sala! Antes a visita ficava na cozinha”. Juliana fala sempre com um sorriso nos lábios.

É professora em uma escolinha e creche, mantida pela Associação Meninos de São Miguel. As mães de 27 alunos dão uma ajuda de custo, “o quanto podem”, em média R$ 10 por mês. Esse dinheiro, única renda de Juliana, é dividido ainda com outra professora: “Aproveito para comprar o material para a escolinha, como lápis de cor e giz. Acabo não levando pra casa”, conta. No fim, a renda familiar vem do salário do marido, quase R$ 500.

A professora faz planos para cursar faculdade de pedagogia. Sonha em passar no concurso público para lecionar ou em conseguir “qualquer trabalho com criança”, com um salário de R$ 700 por mês. Sonha com a melhoria das condições de infra-estrutura e conseqüentemente da vida da vizinhança: “Nós podemos ser melhores e felizes no lugar onde crescemos e vivemos, não importa onde seja. Por isso, eu tenho vontade de crescer aqui, na minha região, quero participar desse crescimento”.

E Juliana tem outro motivo para ser feliz ali: sua casa não inunda, como ainda ocorre às margens do Tietê e córregos que cortam o bairro. Pois enchente é a marca do Jardim Pantanal.

Fonte: Diário do Comércio

Sandro
Convidado


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