:: O sol nasce no Leste ::
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:: O sol nasce no Leste ::
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Mylene Cyrino Basso
Fui a típica garota classe-média-Zona-Sul.
Morei no Planalto Paulista, Moema, Jd. Aeroporto. Estudei na Vila Mariana, no Paraíso. Me formei na USP.
Décadas de 70 e 80, a São Paulo pós-moderna começava a se delinear. Casas apertadas, tristes, pequenos quintais cimentados. Apartamento caixa de fósforo, vista a se perder de prédios. O sufoco só diminuía nas longas voltas com o cachorro, no Parque Ibirapuera . Ou então, mais tarde, nos dias inteiros passados na Cidade Universitária, mais por gosto que por precisão; mais pelo verde que pelos livros; mais pela turma que pelas aulas. Liberdade também é cultura.
A vida segue em frente, como tem que ser. Conheci meu marido, o longo namoro, o pedido de casamento e uma condição: filho único, ele não poderia abandonar os pais idosos. Que moravam na Penha, no outro lado da cidade, na "famigerada"... ZONA LESTE, pesadelo e desterro das patricinhas e mauricinhos.
Fui conhecer a casa dos pais, o terreno de 500 m² que viria a abrigar também a minha casa. Amor à primeira vista: quintal enorme, cheio de ÁRVORES! Pitanga, jambo, romã, caqui, ameixa, carambola, manga, amora. Tudo à disposição permanente de dezenas de sabiás, maritacas, bem-te-vis. Fora o menu de flores, especialíssimo para os colibris, abelhas e borboletas coloridas. Horta. Terra. Pés no chão.
Casei, mudei, nem lembranças deixei. Construí minha casa, tive dois filhos; possuo 4 cachorros, galinhas, tartaruga, naquele bairro antigo e maravilhoso. Cheio de casinhas pequenas e quintais enormes. Árvores, árvores e árvores. Os vizinhos se conhecem e conversam. Bom dia, boa tarde, boa noite, aos conhecidos e desconhecidos. Em junho, as fogueiras (de verdade) iluminam os quintais, cheios de bandeirinhas (inclusive o meu). As velhinhas fazem quitutes em casa e ainda ensinam as netas. Os comerciantes dão balas às crianças dos fregueses - e sabem o nome de todos.
Calor humano, respeito, horizontes. Da varanda da casa de minha sogra, avisto ao longe o compacto dos prédios que acompanham o metrô. E o pisca-pisca das torres, sinalizando o distante espigão da Avenida Paulista.
Fui uma típica garota classe-média Zona Sul. Hoje sou penhense, de adoção e coração. O sol - lindo de se ver do meu quintal - nasce no Leste.
Mylene Cyrino Basso
Fui a típica garota classe-média-Zona-Sul.
Morei no Planalto Paulista, Moema, Jd. Aeroporto. Estudei na Vila Mariana, no Paraíso. Me formei na USP.
Décadas de 70 e 80, a São Paulo pós-moderna começava a se delinear. Casas apertadas, tristes, pequenos quintais cimentados. Apartamento caixa de fósforo, vista a se perder de prédios. O sufoco só diminuía nas longas voltas com o cachorro, no Parque Ibirapuera . Ou então, mais tarde, nos dias inteiros passados na Cidade Universitária, mais por gosto que por precisão; mais pelo verde que pelos livros; mais pela turma que pelas aulas. Liberdade também é cultura.
A vida segue em frente, como tem que ser. Conheci meu marido, o longo namoro, o pedido de casamento e uma condição: filho único, ele não poderia abandonar os pais idosos. Que moravam na Penha, no outro lado da cidade, na "famigerada"... ZONA LESTE, pesadelo e desterro das patricinhas e mauricinhos.
Fui conhecer a casa dos pais, o terreno de 500 m² que viria a abrigar também a minha casa. Amor à primeira vista: quintal enorme, cheio de ÁRVORES! Pitanga, jambo, romã, caqui, ameixa, carambola, manga, amora. Tudo à disposição permanente de dezenas de sabiás, maritacas, bem-te-vis. Fora o menu de flores, especialíssimo para os colibris, abelhas e borboletas coloridas. Horta. Terra. Pés no chão.
Casei, mudei, nem lembranças deixei. Construí minha casa, tive dois filhos; possuo 4 cachorros, galinhas, tartaruga, naquele bairro antigo e maravilhoso. Cheio de casinhas pequenas e quintais enormes. Árvores, árvores e árvores. Os vizinhos se conhecem e conversam. Bom dia, boa tarde, boa noite, aos conhecidos e desconhecidos. Em junho, as fogueiras (de verdade) iluminam os quintais, cheios de bandeirinhas (inclusive o meu). As velhinhas fazem quitutes em casa e ainda ensinam as netas. Os comerciantes dão balas às crianças dos fregueses - e sabem o nome de todos.
Calor humano, respeito, horizontes. Da varanda da casa de minha sogra, avisto ao longe o compacto dos prédios que acompanham o metrô. E o pisca-pisca das torres, sinalizando o distante espigão da Avenida Paulista.
Fui uma típica garota classe-média Zona Sul. Hoje sou penhense, de adoção e coração. O sol - lindo de se ver do meu quintal - nasce no Leste.
Mylene- Convidado
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